quinta-feira, 16 de julho de 2009

BARRAGEM - Estado garante conclusão da Barragem São José em Poço Verde

Povoado São José, município de Poço Verde. Lá, durante a maior parte do ano, o rio Real não passa de uma linha d’água instável e mortiça. O solo é visivelmente mais arenoso e pobre do que o do resto da região. A palavra ‘água’ soa na boca dos habitantes como uma preciosidade. E o abandono da obra que fora pensada para mudar essa realidade minou completamente as esperanças que a população alimentava de melhoria. “Ninguém estava preocupado em fazer a barragem daqui. Era só confusão e mais confusão e nada de construir nada”, declarou o lavrador Jailton Nascimento de Souza. Mas a solução do dilema também foi testemunhada por ele. “Só quando se juntou o atual Governo com a atual prefeitura é que, em um ano, tudo foi feito”.
O trabalhador rural se refere à parceria efetuada entre o Governo do Estado, o Governo Federal e a Prefeitura Municipal de Poço Verde para a conclusão da Barragem São José. Resultado de um investimento da ordem de R$ 4.905.293, 34, dos quais R$ 280 mil fornecidos pelo Governo de Sergipe, a obra reterá a água do rio Real no período do inverno e garantirá o fornecimento de água para a região durante todo o ano, beneficiando diretamente todos os 3 mil habitantes do Povoado São José. Há ainda a previsão de atendimento de mais 15 mil pessoas com a conclusão dos projetos que a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) irá desenvolver em Poço Verde.
O governador do Estado, Marcelo Déda, destacou que a conclusão da obra é uma demonstração da força e da dedicação do Governo com Sergipe. “A Barragem São José é a concretização de um ideal que permeia nossa administração desde o início: o ideal de compromisso com o povo sergipano. E não emprego aqui o termo ‘compromisso’ de forma esvaziada ou retórica, mas para qualificar todo o processo de verdadeira higienização burocrática e de investimentos pela qual passou essa obra, que fora negligenciada por administrações anteriores. A Barragem São José, portanto, congrega duas vitórias em uma só: a da transparência e a da capacidade de realização desse Governo”, frisou.
Já o prefeito de Poço Verde, Antônio Fonseca, ressaltou os benefícios que a construção trará para os poçoverdenses. “A população vai ter um ganho econômico considerável, pois a barragem vai viabilizar irrigação, vai permitir que na época de seca os animais possam beber e vai possibilitar a piscicultura, algo que nunca houve aqui no município. A obra também vai proporcionar um melhor abastecimento de água para uso humano e irá permitir a criação de um perímetro irrigado, que vai gerar mais milho, mais feijão e permitirá o cultivo de frutas”, elencou.
O prefeito destacou ainda que a barragem, situada exatamente no limite entre Poço Verde e os municípios baianos de Adustina e Fátima, também servirá para impulsionar o turismo intermunicipal e até interestadual na região. “Antes mesmo de ter sido inaugurada, a construção tem atraído milhares de pessoas de todos os municípios vizinhos. São pessoas que aparecem para se banhar no ponto do rio onde a barragem está, movimentando o comércio local”, explicou.
Luta pelo projeto
O projeto da barragem São José foi inicialmente idealizado por um missionário que passou pela região, o já falecido Padre Antônio Melo. Autodidata da engenharia, o clérigo imaginou que a estiagem que sempre assolou o povoado poderia ser resolvida com a construção de uma barragem em um ponto estratégico. A partir do ano 2000, a sugestão se transformou em projeto, mas diversas irregularidades impediram a idéia de sair do papel. Segundo o prefeito Antônio Fonseca, a construção da Barragem foi resultado de um longo processo de reconquista da credibilidade de Poço Verde junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério da Integração.
“O TCU encontrou várias irregularidades na forma como o projeto estava sendo conduzido pela empresa que havia vencido a licitação. Eles não tinham licença prévia, não tinham licença de instalação e mesmo assim começaram a obra. Então o TCU mandou parar tudo. Quando assumimos a prefeitura, contamos com o apoio de Marcelo Déda, que, ainda como prefeito de Aracaju, intermediou o encontro da prefeitura de Poço Verde com o Ministério da Integração.
Nessas reuniões, nos comprometemos a rever todo o projeto e tocá-lo pra frente”, disse. Efetuada a regularização, a prefeitura de Poço Verde teve o apoio do Governo de Sergipe para realizar a licitação e contratação da empresa fiscalizadora, ação que movimentou os R$280 mil correspondentes à contribuição do poder estadual.O secretário municipal de Planejamento, Weldman Rocha Júnior, destacou a complexidade das negociações. “Atualizamos todo o projeto, todos os valores, conseguimos autorização do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e conseguimos permissão da ANA [Agência Nacional de Águas]. E tudo o que foi pedido pelo TCU e pelo Ministério da Integração foi aprovado. Somando tudo, foram 3 anos e meio de muita luta até que finalmente começássemos a construir”, detalhou.
As obras se iniciaram em junho de 2008 e foram concluídas no início de julho de 2009.Obra fundamentalFeita de maciço de terra, a barragem São José possui uma ‘murada’ de 9 metros de altura e proporcionará o surgimento de um lago de 3,5 milhões de m³ de água – em época de cheia - em uma área de 85 hectares. A estrutura é formada também por um extravasor de concreto e uma torre com controle manual para captação de água. A construção controlará o fluxo do trecho local do Rio Real - que só fica perene na região de Indiaroba - , armazenando parte de sua vazão no inverno para compensar a estiagem nas demais estações.
“Em Poço Verde o rio Real é intermitente, não corre. Na época de verão, dá pra ver o caminho do rio como se fosse uma calha. Mas quando chove no inverno, o volume de água na região é impressionante, torrencial. O problema é que ela vai embora. Daí a importância dessa barragem: ela irá segurar a água, tornando o rio perene no povoado”, explicou Weldman Júnior.
O secretário municipal de Planejamento ressaltou ainda os ganhos da população com a realização. “Essa obra promove inclusão social, resgate da cidadania e da economia. No inverno, as plantações em Poço Verde são bem vistosas. Mas isso é exceção. No resto do ano, é tudo seco, gado morrendo, nada sendo plantado. Ao garantir a água, a barragem São José mudará isso. Será uma obra fundamental para o crescimento do município”, frisou.Weldman Júnior também destacou o apoio fundamental do Governo do Estado. “O município não tinha condições de arcar com a contratação da empresa, por isso recorreu ao governador Marcelo Déda. Se não fosse por esse apoio, nunca conseguiríamos concluir o projeto”, disse.
“Vamos ter água à vontade”Para José Nascimento Santana, agricultor e morador do povoado São José, a barragem oferece mais opções de atividade para a população. “Trabalhamos no inverno e no verão ficamos parados. Até esse mês de maio ficamos uns 8 meses sem fazer nada, sem chuva nenhuma. E a gente tinha que pegar água dos caminhões-pipa. Eu mesmo pagava 50 reais para poder dar um pouco d’água pra plantação e mais um pouco pra uma ovelhinha que tenho. Mas quando a gente começar a aproveitar essa barragem, vamos poder fazer plantio no verão, fazer irrigação e até criar peixe. Vamos ter água à vontade”, animou-se.
Assim como a maioria dos agricultores poço redondenses, Eronilde de Jesus Fontes se dedica ao plantio de milho e feijão. E também como a maior parte da população, ele acompanhou o complicado processo de aprovação do projeto de obra. “O pessoal que começou antes não fez foi nada. Só agora é que pegaram e terminaram tudo. E tenho certeza de que vai melhorar muita coisa, porque se antes a gente dependia da prefeitura pra ter água, agora todo mundo vai poder fazer plantio quando quiser”.
Já a lavradora Elisabeth Maria dos Santos, de 77 anos, lembrou que não eram escutados sons de trovão há mais de dois anos na região. “Chuva? Aqui? Ficamos um bom tempo sem saber o que é. Tínhamos que ir pros tanques do Jitirana, do Laje, lá longe, pra ter nossa água”, revelou. Com a barragem, para ela, chegará um tempo de fartura para o povoado. “Vamos ter água, mais coisa pra plantar, mais opções de trabalho. Vamos ficar ricos”, emendou.
O lavrador Jailton Nascimento de Souza também comemorou o fim das dificuldades. “A situação aqui era difícil. No verão, o negócio era pegar água das charretes que vinham com os potes. Já cheguei a pagar 60 reais pra pelo menos colocar alguma coisa na cisterna. Mas agora isso acabou. Temos uma barragem que até ponto turístico já virou. Estou certo de que a vida de todo mundo aqui vai melhorar”.

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